Todos os anos, a tragédia volta a golpear as nossas florestas e, com ela, a perda irreparável de vidas humanas, casas destruídas e o colapso de economias locais.
Embora a catástrofe de 2017 não possa ser diretamente
comparada com os incêndios que vivemos agora, o sentimento que se apodera de
nós, cidadãos, é o mesmo: pouco foi aprendido desde então.
Mais uma vez, enfrentamos o inferno das chamas, e as
soluções parecem tão distantes como antes. O tempo passa, mas o problema
permanece.
É impossível não nos sentirmos angustiados ao perceber que,
passados sete anos, continuamos a lidar com a falta de ordenamento do
território, a escassez de medidas preventivas eficazes e uma desorganização que
se reflete na coordenação entre bombeiros, autarquias, proteção civil e governo
central.
Estes são desafios imensos, e sabemos que não são resolvidos
da noite para o dia, mas o que dói profundamente é perceber que pouco ou nada mudou.
As medidas implementadas após 2017, como a obrigação dos
proprietários em limpar terrenos, foram acompanhadas de ameaças de multas, mas
sem a devida consideração para com aqueles que simplesmente não têm condições
financeiras para o fazer.
Como pode um proprietário de uma pequena parcela de terra
arcar com os custos da limpeza florestal? Muitos com reformas que não chega
sequer para os medicamentos.
Passaram a responsabilidade para as Câmaras Municipais, mas
estas, não dispõem dos recursos financeiros necessários para gerir vastas áreas
de terreno, e o poder central, como sempre, põe-se de fora.
Isto cria um ciclo vicioso, em que ninguém é capaz de agir,
e o país arde ano após ano.
Não podemos ignorar o problema de fundo: a desorganização e
a falta de articulação. A falta de entendimento entre autarquias, bombeiros,
proteção civil e o poder central continua a colocar em risco a segurança das
populações.
Quando uma Câmara Municipal e o Comandante dos Bombeiros não
se entendem, quando os bombeiros não cooperam com a proteção civil, ou vice
versa, ou ainda quando o governo central não articula eficazmente com as
autarquias, o preço que pagamos é elevado demais. Estamos a falar de vidas
humanas, será que ainda não entenderam?
É essencial que se ponha a política de lado e que se olhe
para as verdadeiras vítimas: as populações afetadas, que perdem tudo, desde os
seus entes queridos até aos bens que levaram uma vida inteira a construir.
O sofrimento destas pessoas não pode continuar a ser usado
como arma política. O foco tem de estar nos cidadãos, na sua proteção e na
prevenção eficaz deste flagelo que teima em destruir tanto a nossa natureza
como a nossa esperança.
Depois de tantas tragédias, parece que o país ainda não
aprendeu o suficiente. E isso é desolador.
Não podemos continuar a fechar os olhos a um problema que se
repete de forma cíclica. Chega de fingir que não existe uma crise séria de
gestão do território e da nossa capacidade de enfrentar as mudanças climáticas.
A cada ano que passa sem soluções efetivas, aproximamo-nos
de mais tragédias, com mais vidas perdidas e mais sonhos destruídos.
Este é o momento de agir com seriedade, de parar de empurrar
responsabilidades e de começar a fazer as mudanças estruturais que tanto
faltam.
O futuro das nossas florestas, das nossas comunidades e,
acima de tudo, das nossas vidas, depende disso.
Chega de promessas vazias e de medidas ineficazes. É hora de
aprender com o passado para proteger o futuro.
Que cada um de nós, enquanto cidadãos e governantes, se juntem
nesta causa tão premente e necessária.
A natureza está a gritar por socorro. Que saibamos ouvi-la,
antes que seja tarde demais.
João Manuel Magalhães Rodrigues Fernandes
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