9/20/2024

INCÊNDIOS FLORESTAIS: UM GRITO DE ALERTA QUE NÃO PODE SER IGNORADO


Todos os anos, a tragédia volta a golpear as nossas florestas e, com ela, a perda irreparável de vidas humanas, casas destruídas e o colapso de economias locais.

Embora a catástrofe de 2017 não possa ser diretamente comparada com os incêndios que vivemos agora, o sentimento que se apodera de nós, cidadãos, é o mesmo: pouco foi aprendido desde então.

Mais uma vez, enfrentamos o inferno das chamas, e as soluções parecem tão distantes como antes. O tempo passa, mas o problema permanece.

É impossível não nos sentirmos angustiados ao perceber que, passados sete anos, continuamos a lidar com a falta de ordenamento do território, a escassez de medidas preventivas eficazes e uma desorganização que se reflete na coordenação entre bombeiros, autarquias, proteção civil e governo central.

Estes são desafios imensos, e sabemos que não são resolvidos da noite para o dia, mas o que dói profundamente é perceber que pouco ou nada mudou.

As medidas implementadas após 2017, como a obrigação dos proprietários em limpar terrenos, foram acompanhadas de ameaças de multas, mas sem a devida consideração para com aqueles que simplesmente não têm condições financeiras para o fazer.

Como pode um proprietário de uma pequena parcela de terra arcar com os custos da limpeza florestal? Muitos com reformas que não chega sequer para os medicamentos.

Passaram a responsabilidade para as Câmaras Municipais, mas estas, não dispõem dos recursos financeiros necessários para gerir vastas áreas de terreno, e o poder central, como sempre, põe-se de fora.

Isto cria um ciclo vicioso, em que ninguém é capaz de agir, e o país arde ano após ano.

Não podemos ignorar o problema de fundo: a desorganização e a falta de articulação. A falta de entendimento entre autarquias, bombeiros, proteção civil e o poder central continua a colocar em risco a segurança das populações.

Quando uma Câmara Municipal e o Comandante dos Bombeiros não se entendem, quando os bombeiros não cooperam com a proteção civil, ou vice versa, ou ainda quando o governo central não articula eficazmente com as autarquias, o preço que pagamos é elevado demais. Estamos a falar de vidas humanas, será que ainda não entenderam?

É essencial que se ponha a política de lado e que se olhe para as verdadeiras vítimas: as populações afetadas, que perdem tudo, desde os seus entes queridos até aos bens que levaram uma vida inteira a construir.

O sofrimento destas pessoas não pode continuar a ser usado como arma política. O foco tem de estar nos cidadãos, na sua proteção e na prevenção eficaz deste flagelo que teima em destruir tanto a nossa natureza como a nossa esperança.

Depois de tantas tragédias, parece que o país ainda não aprendeu o suficiente. E isso é desolador.

Não podemos continuar a fechar os olhos a um problema que se repete de forma cíclica. Chega de fingir que não existe uma crise séria de gestão do território e da nossa capacidade de enfrentar as mudanças climáticas.

A cada ano que passa sem soluções efetivas, aproximamo-nos de mais tragédias, com mais vidas perdidas e mais sonhos destruídos.

Este é o momento de agir com seriedade, de parar de empurrar responsabilidades e de começar a fazer as mudanças estruturais que tanto faltam.

O futuro das nossas florestas, das nossas comunidades e, acima de tudo, das nossas vidas, depende disso.

Chega de promessas vazias e de medidas ineficazes. É hora de aprender com o passado para proteger o futuro.

Que cada um de nós, enquanto cidadãos e governantes, se juntem nesta causa tão premente e necessária.

A natureza está a gritar por socorro. Que saibamos ouvi-la, antes que seja tarde demais.

João Manuel Magalhães Rodrigues Fernandes

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