7/07/2024

Que balanço da participação no Euro2024?

Começo por dizer que não sou um adepto fervoroso de futebol, defendo sempre as cores nacionais, mas rejeito a forma como o futebol é usado para redefinir a nossa identidade e os nossos planos, com grande impacto na vida familiar e das comunidades. É visibilidade a mais sem retorno à altura. Não digo com isto que, no geral, a prestação da Selecção nacional não ficou dentro do que se poderia esperar. Queremos sempre mais, sobretudo quando o futebol atinge esse patamar de ocupação da vida pública e privada. 

Parece que voltámos a venerar os 3Fs e a colocar o futebol como grande projecto de desenvolvimento nacional. Sem esquecer que estamos a dar voz não apenas ao tema, mas aos tais treinadores de bancada, diria de sofá, que no máximo entendem de cerveja e tremoços. É certo que o jogo em si, e o envolvimento dos adeptos em particular, tem carácter universalista, ou seja, de alguma forma é inclusivo. A grande questão é que não larga o véu da propaganda e benefício de um grupo restrito usando as massas como base de apoio. Pode não ser uma forma manipulação partidária, mas é certamente um expediente que dá ideia que os grandes conflitos e desafios sociais se resolvem dentro das 4 linhas e nas bancadas.

Poderíamos e deveríamos usar a capacidade de mobilização do futebol para envolver as pessoas na resolução dos problemas nacional e das comunidades. Mas aí reina o desinteresse. O futebol representa dinheiro e o citado controle das massas. Ninguém quer as massas activas e problematizadoras.

A grande questão não é o êxito ou o fracasso da campanha da Selecção. Até parece que não temos questões mais importantes na vida. Pior ainda, até parece que desporto é apenas futebol. Temos exemplos em diversas outras modalidades cada uma com os seus Ronaldos, mas que não são idolatrados repetida e sistematicamente como o futebol profissional. O caso do canoista Fernando Pimenta é bastante ilustrativo. Por outro lado, a mesma comunicação social que repete notícias sobre o comportamento dos jogadores, que faz de alguns heróis e de outros incapazes, ignora totalmente outras modalidades. Cabe no caso citar o exemplo da Volta a Portugal em bicicleta feminina, totalmente esquecida pela comunicação social. Certamente não faltam aí outros exemplos, nomeadamente das ditas modalidades e do desporto de base local.

Ainda assim, de toda a campanha não deixo de questionar a forma como os opinadores oficiais levaram Diogo Costa em ombros pelo seu feito, mas logo em seguida procederam ao linchamento público de Ronaldo e Félix. É certo que se questiona a presença de Martinez e das suas opções, não por ser espanhol, como tem sido dito, mas por não ser adequado à qualidade do futebol português e permeável, muito provavelmente, ao soprar de ouvido de certos empresários. Mesmo assim, não deixo de apoiar a inclusão de Ronaldo, por trazer visibilidade e reputação. A constante titularidade é outro aspecto que deixo para os opinadores.

Cinema Avis, em Lisboa.

 

Antigo cinema Avis, em Lisboa.

 

 O edifício foi abaixo e hoje ergue-se um bloco moderno, com fachada de azulejo, e, no lugar do cinema, há o café Princesa e o restaurante Vitaminas & Sabores.