6/04/2024

Abismo

 Abismo


Deixo o Santo António ser festejado

Nas suas românticas tradições e veneração

Tal como o São João nas suas danças de cor e alegria

O clima mudou, quero é saber se ainda posso semear uma leira de milho e feijão

Quero confirmar se as batatas e a vinha não estão impregnadas de pragas

Quero celebrar o Dia do Ambiente e venerar os Santos

Só não sei se haverá pão que arrefeça a sopa

Nem vinho que dê motivos para celebrar 

Hoje atravessei dois ribeiros na cidade

As casas marginais são pobres e escolhidas

Temi uma enchente e vidas levadas

Escutei também muitas palavras, discursos de circunstância e promessa

Quero narrar a possibilidade de se renovar a esperança e de se proteger o planeta com fundamento 

Mas vejo tanto óleo na fritura que temo pelo bem-estar de todos nós 


José Gomes Ferreira

"AS PALAVRAS DANÇAM NOS OLHOS DAS PESSOAS, CONFORME O PALCO DOS OLHOS DE CADA UM!"

 


Escrever poesia é contar um segredo. É ser honesto como só se é com o próprio rosto no espelho, ou ser o fingidor da dor que deveras se sente. Mas esta honestidade é de si para si, do poeta para si mesmo. É um acto de auto consciência que se partilha, em última instância, com o leitor, como um segredo só se partilha com um amigo. O poema é um acto de amor que não pode ser ensinado, mas demonstrado na intimidade.

 

©Fernando Neto