7/21/2024

Aristides

Aristides foi consul 

Que não se permitiu obedecer

Salvou vidas, marcou famílias

Andou esquecido

Foi esquecido ao morrer

Tão homem e humanista

A ditadura vetou-lhe o futuro 

Aristides agora foi honrado

Num clima de euforia 

Que mais parece oportunismo

Apoiado por quem rejeita o que defendeu

Até parece que os tempos são outros

Aristides não é só turismo

É identidade e valores

Sentido de justiça e liberdade 

Ícone para quem transgride 

E na luta oferece a própria vida

Aristides não cospe no prato

Nem venera ditaduras

É exemplo de coragem e altruísmo 

Viva Aristides! Aristides vive!


José Gomes Ferreira 

Fluxo de emoções...

 


Era uma vez…Aristides

Quem a história nunca ouviu

Agora vou contar

Para onde muita gente sumiu

Por uma pessoa as odiar

 

Começou com Hitler

E outros alemães

Aristides levantou-se por todos

Homens, crianças e mães

 

Vistos ele deu

A todos que lhe pediram

Muitos deles ao povo judeu

Graças a ele, não sumiram

 

Por este povo perseguido

Aristides não se rendeu

Para salvar todas as vidas

Aristides desobedeceu

 

A sua marca permanece cá

Sem religião, credo ou cor

Carimbou e salvou 30 000 vidas

Pois no mundo 

Somos todos filhos do Amor!

 

                              autora-  Íris Letícia Reis Figueiredo- (17 de junho 2020)

Biblioteca Municipal de Nelas – António Lobo Antunes: Tarefa do dia, ser feliz!

 


A bibliotecária tem a convicção de que o segredo para fazer com que “as pessoas leiam mais e tenham mais apetência para a leitura é fazer coisas fora do normal”.

 “Nelas, nesse tempo, era uma vila pobre, frente à Serra da Estrela e à casa dos meus avós, continuada por uma vinha e cheia de castanheiros atrás e dos lados, tinha uma varanda com uma vista deslumbrante para a Serra.”

António Lobo Antunes é natural de Lisboa, mas já em diversas ocasiões disse e escreveu que o seu coração está na vila de Nelas, no distrito de Viseu, o lugar onde viveu os tempos mais felizes da sua infância.

 “Ele tem uma ligação muito forte a Nelas, onde passava férias na infância e adolescência com os avós maternos, que tinham cá uma casa”, contou-me Paula Vitória, diretora da Biblioteca Municipal António Lobo Antunes, onde se realiza um trabalho contínuo de divulgação da obra do escritor lisboeta.

Componente importantíssima desse trabalho é o percurso literário, inaugurado em 2023, que convida a descobrir ou redescobrir a ligação pessoal e literária de António Lobo Antunes à vila de Nelas. E escrevo “redescobrir” porque é sobejamente conhecida a sua ligação a esta vila da Beira Alta. Um exemplo: “Meu Deus o que me dói o meu país a arder! Na Beira Alta onde está sepultada toda a alegria e toda a saudade da minha infância, ali diante da Serra da Estrela, cercado de castanheiros na varanda da casa dos meus avós, em que fui sempre inalteravelmente feliz no meio de ternura e sorrisos, a ver à noite Manteigas a cintilar ao longe, a jantar na varanda enquanto o correio das sete passava lá em baixo no vale.”, escreve António Lobo Antunes na crónica intitulada “Que farei quando tudo arde”, uma das muitas que podemos ler em As outras crónicas, o livro selecionado por Paula Vitória para a minha visita à Biblioteca Municipal de Nelas.

O trajeto do percurso literário liga 14 locais, mencionados, direta ou indiretamente, por António Lobo Antunes nas suas crónicas — são seis os livros de crónicas do autor à disposição na biblioteca. “O percurso demora cerca de duas horas a percorrer e está associado a uma aplicação que fornece indicações, pelo que a ideia é ser realizado de forma autónoma. Em cada um dos locais de paragem, as pessoas são convidadas a ler excertos. Para complementar o percurso literário, inaugurámos este ano na biblioteca uma exposição de fotografia intitulada ‘O Mundo de Lobo Antunes’, de Ana Carvalho, que é mais é uma forma de convidar as pessoas a virem até nós e a conhecerem a vila e os seus pontos mais interessantes”, explicou-me Paula Vitória.

A bibliotecária tem a convicção de que o segredo para fazer com que “as pessoas leiam mais e tenham mais apetência para a leitura é fazer coisas fora do normal para que o público se interesse pelos livros e pela biblioteca e a visite”. E se não vier, perguntei. “Então, temos nós de ir ter com as pessoas! As bibliotecas têm de ser um polo de dinamização cultural, sobretudo nos meios mais pequenos”, acrescentou.

 “Esta porta é mágica, aqui entramos noutro mundo”, disse a bibliotecária, convidando-me a entrar na


Oficina do Óscar. Lá dentro, um mundo de cor e fantasia, com bonecos do tamanho de gente, mesas e bancos, loiças, utensílios de cozinha, uma bancada de cozinha móvel e um quadro, entre muitos, cuja mensagem me chama a atenção: “Tarefa do dia: ser feliz.”

— É isto que se procura quando passamos aquela porta?

— Sem dúvida! —, exclamou Carlos Henrique, o animador do espaço. — A ideia é que se entre com o espírito de viver este mundo de fantasia e que se seja feliz!

— E o que se faz em concreto?

— Bom, aqui é a Oficina do Óscar, o Óscar é a nossa mascote, como facilmente se percebe. E esta oficina serve para tudo e mais alguma coisa de acordo com as temáticas que estamos a trabalhar. Tanto pode ser um espaço de culinária, como ateliê de construção, de histórias, de escultura, de pintura, é variável. Neste momento, é uma oficina que mistura showcooking com literatura, animação, contos, histórias e invenções, ou seja, é uma fusão destas áreas todas, em que o Óscar e os seus amigos, que são as crianças que cá vêm, vão aprender que a arte de cozinhar tem muito de brincadeira, desafio e aprendizagem.

— Nem vale a pena perguntar se gostam…

— Adoram, claro. Os miúdos vêm em grupo com a família e todos metem as mãos na massa e elaboram cupcakes, bolachinhas, bolos, donuts saudáveis, entre outras coisas.

Temos sempre cuidado com os ingredientes por causa das intolerâncias, tudo é previamente falado com os professores, e se alguns dos miúdos não puderem utilizar um ingrediente, utilizam outro para não se sentirem excluídos. Aqui a ideia é incluir os alunos de todas as escolas do 1.º ciclo, dos jardins de infância e as respetivas famílias. Queremos sobretudo que as famílias venham com os filhos. E não há uma idade específica, depende das atividades. Uma vez aqui, trabalham em grupos de quatro e cinco e todos têm uma tarefa, que é para aprenderem a trabalhar em equipa, e depois comem aquilo que fizeram. Se correr ligeiramente mal, paciência, comem na mesma o que fizeram enquanto assistem a um espetáculo de marionetas ou ouvem histórias.


— E quem é que criou o Óscar?

— Fui eu. Eu construo cenários, marionetas, um pouco de tudo para criar este mundo de fantasia. Ah, e todos conhecem o nosso lema.

— Eu ainda não…

— É assim: ‘Aqui na oficina do Óscar, todos arregaçamos as mangas e pomos as mãos na… massa!’ É uma maravilha vê-los todos a gritar ‘massa’!

— Isto é só para miúdos e famílias?

— Não, também fazemos uma adaptação para o público sénior que vem nas excursões visitar a vila de Nelas. Nesse caso, trazêmo-los à oficina e servimos um brunch com produtos endógenos da região, como o pão, o queijo da serra, o azeite, o mel e o vinho, e fazem a degustação enquanto assistem a um espetáculo de poesia ou outra qualquer expressão artística mais direcionada para adultos. É verdade que tudo isto é uma fusão um bocado maluca, mas acho que tudo se encaixa perfeitamente.

À saída, reparo num outro cartaz: em cima, lê-se “A Oficina do Óscar – Assim enchemos o coração de energia, saboreamos cada história e reavivamos o prazer de estar à mesa com quem nos é importante”; logo abaixo, “Ingredientes: 1 colher de sopa de Inovação, 1 caneca cheia de Criatividade, 1 boa pitada de Energia, 1 copo de Dinamismo, 1 cubo de Arte, 1 tigela cheia de Expressividade, 1 embalagem de Sabor”; por fim, a preparação: “Junte todos os ingredientes num espetáculo de fusão, meta as mãos e misture com diversão e criatividade e, no final, desfrute na companhia de amigos e família!”

Que sorte a das crianças e jovens de Nelas por terem o Óscar como amigo. Que momentos tão felizes vivem na biblioteca. Que belas memórias de infância estão a construir. Palavra de patrono: “E foi em Nelas que passámos os tempos mais felizes da nossa infância, recuperando das desgraças do inferno polar da Praia das Maçãs e sem nenhuma vontade de regressarmos a Lisboa, cheia de pinheiros, de amor, e da imensidade extraordinariamente bela da Serra. Eu, o João, o Pedro e o Miguel, e pergunto-me por que maldade horrível nos tiraram isto. Quer dizer não tiraram por completo. Neste momento, palavra de honra, estou lá.”

Fonte – João da Silva (https://www.publico.pt/2024/07/15/impar/cronica/biblioteca-municipal-nelas-antonio-lobo-antunes-tarefa-dia-feliz-2095405)

O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

As pinturas do Nelson Santos





 

A IMPORTÂNCIA DA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS EM PORTUGAL

 


Em Portugal, o ato de doar órgãos tem salvado vidas e transformado o futuro de muitos cidadãos. Nos primeiros seis meses de 2023, mais de 450 pessoas foram transplantadas, um aumento significativo face ao ano anterior.

Este crescimento destaca a generosidade dos dadores e a eficiência do sistema nacional de saúde.

Com um aumento de 36,4% nos transplantes de órgãos e um crescimento de 22% no número de dadores falecidos, Portugal orgulha-se de ocupar o terceiro lugar mundial em termos de dadores de órgãos.

Estes números refletem um compromisso coletivo em salvar vidas e melhorar a qualidade de vida de inúmeros pacientes.

Os transplantes renais lideram a lista, representando mais de metade dos órgãos transplantados, com 547 rins em 2023, dos quais 71 foram de dadores vivos.

Este feito coloca Portugal entre os países com a maior taxa de transplantes renais na Europa.

O Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação, celebrado a 20 de julho, visa sensibilizar a população para a importância desta prática.

Este ano, o evento focou-se no tema “Celebrar a Vida: Transplante, Desporto e Inovação para um Futuro Saudável”, sublinhando a relevância dos hábitos de vida saudáveis para o sucesso dos transplantes.

A doação de órgãos não é apenas um ato de solidariedade, mas também uma poderosa ferramenta para salvar vidas. Cada doador pode transformar o destino de vários pacientes, oferecendo-lhes uma nova oportunidade de viver plenamente.

A participação ativa de todos – desde dadores e profissionais de saúde até à sociedade em geral, é crucial para continuar este percurso de sucesso e inovação.

Através da educação e sensibilização, podemos garantir que mais vidas sejam salvas e que a esperança continue a florescer em cada canto de Portugal.

Doe órgãos, salve vidas. O seu gesto pode ser o milagre que alguém espera.

Fiquem bem, uma Abençoada tarde de sábado, sejam felizes...

João Manuel Magalhães Rodrigues Fernandes

Reciprocidade cultural Portugal-Brasil

Escrevo do Brasil, para onde vim em Janeiro de 2016. Frequentemente, questionam-me porque fiz o percurso inverso aos brasileiros, já que eu vim e eles vão. Facilmente me adaptei e até agora só tenho motivos para me sentir bem, apesar de ter presente a expressão: o Brasil não é para principiantes. Devo dizer que não sinto qualquer benefício quanto ao ser português por aqui, referindo-me, obviamente, a aspectos relacionados a acordos bilaterais entre os dois países, no restante a língua ajuda, mas nem tudo são facilidades.

Actualmente, no Brasil destacam-se os treinadores de futebol portugueses, muitos iludidos com pretensas facilidades. Não é notícia a existência de jogadores portugueses no campeonato brasileiro. Em outras áreas por vezes aparecem alguns portugueses. No caso das universidades, que é o meu caso, encontro alguns ou pelo menos tenho notícias de alguns a trabalhar em diversas áreas. 

Antes desta vaga de imigrantes brasileiros para Portugal já se destacavam os jogadores de futebol e, mesmo sem residirem no nosso país, os artistas brasileiros sempre tiveram destaque no acolhimento em Portugal. Não me refiro necessariamente às novelas e a todo mundo do espectáculo relacionado à televisão, mas sobretudo ao mundo da música. 

Os artistas brasileiros estão sempre nos palcos principais de norte a sul de Portugal e ainda bem que assim é. Tem muita produção ruim, que só tem visibilidade em terras lusitanas, no geral são artistas de primeiríssima linha. O grande problema é que não havendo uma política de intercâmbio recíproco o mercado é marcado por agentes que favorecem um lado apenas - os artistas brasileiros e o público português. A presença de artistas nacionais em salas de espectáculos brasileiras é quase nula. O conhecimento do cidadão comum sobre a cultura portuguesa é quase nulo, pois não se investe na promoção e troca de experiências. O vinho e o azeite, bem como alguma literatura, são os nossos maiores embaixadores em Terras de Vera Cruz. Sem esquecer o importante papel da TAP nas ligações que ficam para além das viagens. 

Tenho um vizinho que acompanhou a carreira de Roberto Leal. Outras pessoas guardam algumas memórias. Numa das cidades em que trabalho, um motorista de Uber falou-me com brilho nos olhos sobre a sua prática de escuta radiofônica. Contou-me que é fã de Amália Rodrigues e escuta diariamente a Rádio Amália. Numa outra cidade sei da existência da Rua Amália Rodrigues. Mas tudo isso são casos pontuais, falta fazer tudo para mostrar que nem tudo é triste e nem tudo é fado.