08 junho 2024

Poesia

 


Poesia é um pouco indecência

É talvez a inconsciência que o mundo tem razão

É como uma sombra, uma prece que inverte o dom do ar

De ser do dia o que tange a incandescência

E que pormenoriza a fome de voar.

 

Sabe-se que um verso é uma espécie de cais

Que nos traz a dor da compaixão

E o ódio que em fé se faz vítima e vinga o medo da razão.

 

Qual razão que concebe incertezas e transcende impaciências

Poesia transmuta-se em olhar

E qual um urro despede-se

De um peito que derrete quando deita-se no mar.

 

©Fernando Neto

06 junho 2024

O DIA-D


O dia da invasão da Normandia, França, em 6 de junho de 1944, ficou conhecido como o Dia-D. Esta foi a operação militar mais importante efetuada pelas tropas dos países Aliados ocidentais durante a Segunda Guerra Mundial. No final de junho daquele mesmo ano, mais de 850.000 soldados norte-americanos, britânicos e canadenses já haviam desembarcado nas praias da região da Normandia.

Após a conquista da França pela Alemanha em 1940, o maior objetivo estratégico dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial foi a busca da abertura de uma segunda frente de batalha na Europa ocidental.  No dia 6 de junho de 1944, sob o codinome de Operação Suserana (Overlord), tropas norte-americanas, britânicas e canadenses desembarcaram nas praias da região da Normandia, França, situada no Canal da Mancha a leste da cidade de Cherbourg e a oeste da de Le Havre. 

 


Sob o comando geral do General Dwight D. Eisenhower e, em terra, do general britânico Bernard Montgomery, mais de 130.000 soldados das tropas Aliadas desembarcaram em cinco praias francesas, as quais receberam os codinomes de Omaha, Gold, Juno, Sword e Utah. Na noite anterior ao desembarque marítimo, 23.000 paraquedistas norte-americanos e britânicos, utilizando paraquedas e planadores, pularam sobre o solo francês por trás das linhas-de-defesa alemães. A força de invasão contou com mais de 155.000 soldados e com também 50.000 veículos (dentre os quais 1.000 tanques).  Cerca de 7.000 veículos marinhos e mais de 11.000 aviões forneceram o apoio militar necessário ao sucesso da invasão.

 

“Este é o Dia-D”, anunciou a BBC às 12 horas.  “Hoje é o dia. A invasão começou… Será realmente a tão esperada liberação?  A liberação sobre a qual tanto falamos, que ainda parece boa demais para ser verdade, como se um conto-de-fadas fosse se tornar verdade? Será que este ano, 1944, nos trará a vitória? Nós não sabemos ainda, mas onde há esperança, há vida. Ela nos enche de uma nova coragem e nos faz fortes novamente” - Anne Frank, escrito em seu diário no dia 6 de junho de 1944.

 

Sob o comando geral do Marechal-de-Guerra Erwin Rommel, os alemães haviam colocado cinco divisões de infantaria, uma divisão aerotransportada e uma divisão de tanques terrestres ao longo da costa da Normandi, e estava posicionada em vantagem para a batalha. Entretanto, os Aliados possuíam uma clara superioridade sobre as tropas nazistas devido ao seu poderio aéreo e naval. No Dia-D, os Aliados efetuaram 14.000 vôos, enquanto os alemães apenas conseguiram fazer 500. E, além disto, o plano Aliado de desinformação havia feito os alemães acreditarem que o ataque aconteceria mais ao norte e a leste da costa, perto da cidade de Calais e da fronteira belga. Assim enganados, os alemães só conseguiram se movimentar de forma lenta para tentar reforçar suas defesas na Normandia após o desembarque inicial dos Aliados.      

A despeito da superioridade dos Aliados, os alemães conseguiram conter o lento avanço das tropas Aliadas sobre suas bases por seis semanas. A 1a. e a 29a. Divisões-de-Infantaria efetuaram o desembarque mais difícil, na Praia de Omaha. A forte resistência alemã naquele local causou 3.000 perdas de vidas antes que as tropas Aliadas pudessem estabelecer suas posições no final daquele dia.  No Dia-D propriamente dito, as tropas Aliadas sofreram mais de 10.000 perdas: as forças britânicas e canadenses perderam 3.700 pessoas; os EUA tiveram uma perda de 6.600 homens.  Os alemães perderam dentre 4.000 a 9.000 soldados.



No Dia-D propriamente dito, os Aliados desembarcaram 11 divisões na costa francesa, mas não conseguiram atingir seu objetivo de ligar as bases nas praias ou de dirigir além de quinze quilômetros rumo ao interior.  Cinco dias depois, em 11 de junho, as tropas Aliadas conseguiram venver a resistência alemã e unir as bases das praias sob seu comando em uma única e grande base.

No dia 25 de julho de 1944, as tropas Aliadas conseguiram romper o impasse na base da praia perto da cidade de São Lo e começaram a entrar pelo norte da França.  Em meados de agosto daquele mesmo ano, as tropas Aliadas já haviam cercado e destruído uma grande parte do exército alemão estacionado no bolsão de Falaise, na Normandia. Liderados pelo Terceiro-Exército do General George Patton, os Aliados avançaram pelo território francês.  No dia 25 de agosto, as forças da França Livre [que haviam servido à França no norte da África e haviam se recusado a se render aos alemães] liberaram Paris; no dia 16 de setembro, as tropas norte-americanas chegaram à fronteira com a Alemanha.

Desde a invasão da Normandia, o dia 6 de junho de 1944 tornou-se conhecido na história da Segunda Guerra Mundial como o “Dia-D”.

Fonte - Holocaust Encyclopedia


04 junho 2024

Abismo

 Abismo


Deixo o Santo António ser festejado

Nas suas românticas tradições e veneração

Tal como o São João nas suas danças de cor e alegria

O clima mudou, quero é saber se ainda posso semear uma leira de milho e feijão

Quero confirmar se as batatas e a vinha não estão impregnadas de pragas

Quero celebrar o Dia do Ambiente e venerar os Santos

Só não sei se haverá pão que arrefeça a sopa

Nem vinho que dê motivos para celebrar 

Hoje atravessei dois ribeiros na cidade

As casas marginais são pobres e escolhidas

Temi uma enchente e vidas levadas

Escutei também muitas palavras, discursos de circunstância e promessa

Quero narrar a possibilidade de se renovar a esperança e de se proteger o planeta com fundamento 

Mas vejo tanto óleo na fritura que temo pelo bem-estar de todos nós 


José Gomes Ferreira

"AS PALAVRAS DANÇAM NOS OLHOS DAS PESSOAS, CONFORME O PALCO DOS OLHOS DE CADA UM!"

 


Escrever poesia é contar um segredo. É ser honesto como só se é com o próprio rosto no espelho, ou ser o fingidor da dor que deveras se sente. Mas esta honestidade é de si para si, do poeta para si mesmo. É um acto de auto consciência que se partilha, em última instância, com o leitor, como um segredo só se partilha com um amigo. O poema é um acto de amor que não pode ser ensinado, mas demonstrado na intimidade.

 

©Fernando Neto


03 junho 2024

REFLEXÕES DIÁRIAS



DESCOBRIR A CRUELDADE DO REGIME FASCISTA NO ALJUBE

O Museu do Aljube Resistência e Liberdade é uma instituição que preserva a memória da Ditadura Militar e do Estado Novo corporativo e fascista em Portugal. 

Esta memória é, ao mesmo tempo, traumática, incómoda e foi muitas vezes silenciada ou apagada de forma deliberada. 

Atualmente, estamos numa fase mais acelerada de recuperação dessa memória. 

Para as vítimas, é uma memória traumática porque elas tiveram sempre poucos interlocutores, foram 

minorias lutadoras no período fascista e enfrentaram dois adversários, o Estado fascista com os seus mecanismos de repressão e a indiferença da esmagadora maioria do povo português. 

Este último, muitas vezes alheado devido à ignorância, pobreza e despolitização programada pelo regime.

Um exemplo deste "alheamento alinhado" foi a participação de mais de um milhão de portugueses na Guerra Colonial, sem questionar a sua profunda irracionalidade política, injustiça e crueldade. 

Apenas a derrota iminente, fez um grupo de capitães recuar e desencadear o golpe militar de 1974. 

Para os antifascistas, a indiferença generalizada do povo português (antes e hoje) é uma forma injusta de desvalorização do seu sacrifício, de não o reconhecerem como necessário e, de algum modo, de o apagarem da Memória e da História.

É impossível entrar neste museu e ficar indiferente à crueldade que ali se passou, desde o espancamento à tortura, entre tantas outras cruéis desumanidades angustiantes, culminando muitas vezes na morte. Segundo alguns testemunhos de quem viveu estas violências, brutalidades, atrocidades e desumanidades, é difícil avaliar qual o melhor, morte, ou a tortura? 

Todos devem visitar o Museu do Aljube Resistência e Liberdade, especialmente os mais jovens, para entenderem melhor, o que é viver sem liberdade e num regime de repressão. 

Parece que muitos, estão a tentar apagar ou branquear esta tremenda barbaridade, e isso não pode acontecer.

A democracia não é um dado adquirido, temos de lutar por ela, todos os dias.

Não posso de deixar de felicitar e dar os parabéns a todos os responsáveis pela criação deste magnífico museu. Fizeram um ilustre e notável trabalho a todos os níveis, essencialmente a bem da consciência democrática. 

Tenho de destacar a pesquisa, depoimentos, arquivos, até à organização e composição do museu como um todo. 

É uma grande referência cultural do nosso país, infelizmente pelas piores razões.

Quem ainda não o visitou, não perca esta magnífica oportunidade, pois além da exposição permanente, pode agora desfrutar de uma exposição sobre os 50 anos do 25 de abril. 

Visitem o Museu do Aljube Resistência e Liberdade, tenho a certeza, que irão ampliar, engrandecer e reconhecer, que não existe melhor regime do que a democracia, mesmo sabendo que este não é perfeito.




REFLEXÕES DIÁRIAS

 


UM MERGULHO NA HISTÓRIA; O ALJUBE E A LIBERDADE

Para os antifascistas, a indiferença generalizada do povo português (antes e hoje) é uma forma injusta de desvalorização do seu sacrifício, de não o reconhecerem como necessário, e de algum modo, de o apagarem da Memória e da História.

É impossível entrar neste museu e ficar indiferente à crueldade que ali se passou, desde o espancamento à tortura, entre tantas outras cruéis desumanidades angustiantes, culminando muitas vezes na morte

Fluxo de emoções

 

O menino

 

Surgiu no coração,

Lindo, ávido de amor,

Cresceste,

Fizeste crescer,

Amor e afeto,

Aprendeste.

 

Ensinaste o verbo amar

Noutra conjugação,

Amor sem fim,

Sem limites, eterno,

Dar a vida por outro?

Agora faz sentido.


Amar é dar

É ternura

É dor e angústia

Mas é também

Uma eterna doçura.


Dores do Carmo

Fluxo de emoções

 

O efémero

 

Momentos fugazes,

Feliz contentamento,

Doce este luar,

No amor erámos ases,

O essencial é o sentimento,

O amanhecer é perdoar,

É tolerar e amar,

Na vida há perder e ganhar,

É seguir a remar.

Dores do Carmo


02 junho 2024

A vida é um poema

A poesia é uma manifestação de liberdade

Nunca é uma busca por glória 

Nem uma narrativa para obter aprovação

Pode até ser responso ruminante

O debuchar do que nos está atravessado 

É um juízo do vivido e uma estética da imaginação 

Não é uma vénia a pedir obediência 

Nem um pedido de desculpa pelas ideias

Pode pedir desculpa pelos actos do poeta

O libido por vezes também sai pelas teclas

O poema não é o momento em que o coração explode

O poema é o encanto e a esperança 

O olhar entregue à minúcia do observável 

A paz repleta de saídas, mesmo sem colocar os adjectivos 

A poesia é a definição da Civilização 

Assim como do querer e fazer acontecer 

Não é uma fábula em três actos

- nascer, crescer e morrer

É a perpetuação da vontade para além do poeta


José Gomes Ferreira