Este não é o Emplastro... é o Sr. Fernando dos Santos. Como
todos nós, ele também tem um nome, uma família e uma história, é muito mais do
que a sua simples alcunha.
Fernando Jorge da Silva dos Santos nasceu na Madalena, Vila
Nova de Gaia, a 25 de Abril de 1971, no seio de uma família muito pobre. Filho
de Alfredo, que faleceu quando ainda era criança e Laura, trabalhadora numa
fábrica de cerâmica e de tijolos, em Coimbrões. Depois de enviuvar ainda teve
um segundo companheiro, Joaquim, que vendia ferro-velho. Laura faleceu há cerca
de 10 anos.
A sua peculiar maneira de estar na vida rendeu-lhe muitas
alcunhas: "Emplastro" para a generalidade do país, "Animal"
para os Super Dragões, "Palhinhas" para os seus amigos de infância
(alcunha que herdou da mãe), "Pintas" para os seus irmãos ou
simplesmente "Nando", para os vizinhos e conhecidos.
Fernando tem 4 irmãos: Manuel, Paulo, Luís e Fátima. As
dificuldades de aprendizagem foram detectadas logo no momento em que entrou
para a escola primária da Madalena. Também os seus irmãos Manuel e Paulo tinham
dificuldades, sendo que nenhum deles terminou sequer a primeira classe. Foram
os três encaminhados para a CERCI de Vila Nova de Gaia que, na altura,
funcionava no antigo palacete Marques Gomes, em Canidelo. Por esta altura já o
seu pai Alfredo tinha falecido.
Na CERCI aprendeu sobretudo serralharia, enquanto Paulo
estava na carpintaria e Manuel se dedicava aos estofos. Laura era muito
dedicada aos seus filhos e nunca faltava a uma reunião. Depois da CERCI e com
pouco mais de 10 anos de idade, Fernando foi trabalhar para uma empresa de
máquinas da indústria panificadora, na Rua da Rasa, em Vilar do Paraíso. A
colocação não foi feita pela instituição, foi fruto de esforços da mãe, que
tinha feito limpezas na casa de um dos patrões. Para além dos rendimentos que
obtinha na fábrica, conseguia mais uns trocos pedindo esmola, todos os fins de
tarde, na Igreja dos Congregados, na Praça de Almeida Garrett. Entregava todo o
dinheiro que conseguia arrecadar à sua avó.
Uma das suas grandes aventuras foi meter-se num avião com
destino a São Miguel, Açores. Ninguém sabe porquê, nem sequer os seus irmãos
que disseram apenas que "O Pintas vai regressar um dia destes".
Quando regressou disse simplesmente que lhe tinha apetecido "ir ver as
vacas." Um dia tentou apanhar um passarinho em dificuldades num poste de
alta tensão na estação das Devesas, em Gaia. Ficou gravemente ferido, ainda
hoje tem as marcas de uma queimadura na zona lombar. Assim que saiu dos
cuidados intensivos, a primeira coisa que disse foi "Como está o
passarinho?"
Fernando e os seus irmãos Manuel e Paulo possuem uma pequena
casa nas traseiras da Igreja da Madalena, herdada dos pais. Fernando raramente
lá aparece, prefere um banco do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, onde dorme com
uma almofada feita de bolas de papel higiénico dentro de um saco de plástico. É
meigo, tranquilo e costuma ajudar as empregadas a arrumar os tabuleiros. Manuel
e Paulo almoçam e jantam na casa do irmão mais novo Luís, que trabalha por
conta própria na construção civil e mora num apartamento não muito longe. Luís
é o tutor dos três irmãos, mas não consegue ter qualquer controle sobre
Fernando. Já Manuel faz umas horas numa roulote de bifanas em Valadares e Paulo
é o verdadeiro biscateiro, sempre pronto a fazer recados ou pequenos serviços
que vão aparecendo. Da irmã Fátima pouco ou nada se sabe.
Fernando sabe de cor a sequência de todas as estações do
Metro do Porto, onde, curiosamente, foi bastantes vezes multado por não ter
bilhete. Entretanto resolveu este problema, tirando o passe. Adora doces,
especialmente pudins. Não sabe ler, nem escrever (apesar de assinar o seu nome
e reconhecer alguns números), mas era bom a cortar, colar e pintar. É fumador
(Marlboro, sempre que pode), sustentando esse vicio com o rendimento das
selfies que lhe pedem (um euro por cada uma).
Mas Fernando sempre teve outros planos para a sua vida:
Queria ser famoso. E conseguiu-o! Hoje em dia sustenta-se com a sua fama, e
chegou mesmo a aparecer num dos programas mais vistos da MTV norte-americano, o
"Ridiculousness". Sobre ele, @tio.jel afirmou: «O Nando é alguém que
marca esteticamente o nosso panorama audiovisual sem dizer uma palavra. E o que
é interessante é que há uma coerência, algum tipo de racionalidade, nas suas
aparições»
A insensibilidade dos nossos dias leva-nos a colocar-lhe
alcunhas ou pagar-lhe para promover comportamentos humilhantes. O Fernando é um
ser com história, é feliz assim, é uma eterna criança.
Por Vanessa Oliveira.
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