9/02/2024

Vista sobre o abismo


Vivemos tempos sombrios, apesar disso arrasta-se uma pequena multidão para o redemoinho que levanta mais poeira e que tapa mais os olhos. Talvez seja esse o problema, as mudanças não resultam de qualquer talento, mas da dilatação da língua, da garganta e dos apetrechos de virilidade. As razões que lhe dão referência não podem ser ignoradas, só não se trata de uma divisão esquerda vs direita, na verdade a direita é a principal derrotada. A direita dita tradicional é extinta para aplauso de propostas anarquistas que apenas querem levantar o pescoço para mostrarem que estão presentes e verem se sobra algum imigrante. Tudo se reduz ao ódio à imigração. A Europa enfrenta uma crise institucional sem precedentes, mas o que ressalta são discursos contra a quem vem de fora. É triste esse orgulho pelo nada e a querer passar uma borracha sobre a violência do passado, mas também sobre a leitura parcial da violência actual, tanto na vida das famílias como entre estados. Não vou citar casos, são públicos, a grande questão é que se usam dois pesos e duas medidas. Como agravante, em vez do reforço do multilateralismo temos o tapete vermelho colocado às empresas e aos tais de CEO. São eles que dominam o mundo e as nossas certezas. O problema já não está apenas no facto da comunicação social espelhar o que os proprietários autorizam. Chegamos a um momento em que isso pouco importa. As narrativas são coladas ao discurso único. O ser humano lembra as actuais marcas e modelos automóveis: estão cada vez mais em modelo único. Quando não estão em modelo único polarizam como tempero da propaganda. Não existe grande diferença entre esquerda e direita, são expressões do neoliberalismo político e do ardor por protagonismo Não sei que caminho é este, mas que não gera bons pensamentos é verdade. Vamos no mau caminho, qualquer aplauso é cuspir no prato. É cuspir na própria religião, que serve de moldura ao que muitos acham que são os principais valores sociais. Precisamos de lideranças que tragam esperança, não ideias facínoras que querem alcoolizar o espírito da liberdade e dignidade humana.

José G. Ferreira

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