9/25/2024

Amarelo Silvestre


Em Ponte de Sor para o segundo Diário de uma República, mas ainda a enviar postais da residência artística da terceira edição, que fizemos nos últimos dias, em Nelas, a vascular sobre o tema da habitação. O Fernando Giestas perguntou, ouviu, olhou bem, escreveu. O Nelson d'Aires foi fotografando as imagens que depois veremos feitas teatro.

Notas de Campo IV

Eles vivem no Bairro dos Engenheiros.

Ele também.

A casa deles era da empresa.

A dele também.

Eles compraram a casa da empresa.

Ele também.

A cara dele está por todo o lado.

Eles deitaram fogo à casa para tentar desalojá-los daqui.

Esta foi a primeira casa a ser construída.

Ele diz havia aqui a ruazinha.

Os pais já foram embora, mas o que o mantém aqui é o lado emocional da casa.

A cara dele está por todo o lado.

Ele diz a entrada principal da casa não é utilizada.

Ele tirou esta fotografia em África.

Ele deixou cair a máquina fotográfica no Oceano Pacífico.

A casa não tem exposição solar nas paredes principais.

A cara dele está por todo o lado.

Ele diz estas divisões são pequenas e eu gosto delas assim.

A vizinha deitou abaixo a parede entre a sala e a cozinha e ele diz que nunca vai fazer isso.


O filho deles está a trabalhar no quarto.

Eles vieram para esta casa em 1983. Não, 1985. Não, 1983. Não, 1985.

Eles dizem que o filho não quer sair daqui.

Ela diz o sol entra pelas janelas de manhã e à tarde.

Os amigos descerraram uma placa com o nome dele na travessa ao lado da casa.

Eles querem casas.

Ele diz não nos dão emprego por racismo.

Ele diz agende um protesto para nós irmos dizer à Câmara em que condições vivemos.

As pedras estão ali para que o telhado não voe.


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