Em Ponte de Sor para o segundo Diário de uma República, mas ainda a enviar postais da residência artística da terceira edição, que fizemos nos últimos dias, em Nelas, a vascular sobre o tema da habitação. O Fernando Giestas perguntou, ouviu, olhou bem, escreveu. O Nelson d'Aires foi fotografando as imagens que depois veremos feitas teatro.
Notas de Campo IV
Eles vivem no Bairro dos Engenheiros.
Ele também.
A casa deles era da empresa.
A dele também.
Eles compraram a casa da empresa.
Ele também.
A cara dele está por todo o lado.
Eles deitaram fogo à casa para tentar desalojá-los daqui.
Esta foi a primeira casa a ser construída.
Ele diz havia aqui a ruazinha.
Os pais já foram embora, mas o que o mantém aqui é o lado
emocional da casa.
A cara dele está por todo o lado.
Ele diz a entrada principal da casa não é utilizada.
Ele tirou esta fotografia em África.
Ele deixou cair a máquina fotográfica no Oceano Pacífico.
A casa não tem exposição solar nas paredes principais.
A cara dele está por todo o lado.
Ele diz estas divisões são pequenas e eu gosto delas assim.
A vizinha deitou abaixo a parede entre a sala e a cozinha e ele diz que nunca vai fazer isso.
O filho deles está a trabalhar no quarto.
Eles vieram para esta casa em 1983. Não, 1985. Não, 1983.
Não, 1985.
Eles dizem que o filho não quer sair daqui.
Ela diz o sol entra pelas janelas de manhã e à tarde.
Os amigos descerraram uma placa com o nome dele na travessa
ao lado da casa.
Eles querem casas.
Ele diz não nos dão emprego por racismo.
Ele diz agende um protesto para nós irmos dizer à Câmara em
que condições vivemos.
As pedras estão ali para que o telhado não voe.
Sem comentários:
Enviar um comentário