9/25/2024

Amarelo Silvestre


Como é habitual, o Fernando Giestas escreveu-nos as suas notas de campo da residência artística do Diário de uma República III, em Nelas. Sobre a habitação, tema com todos os direitos tão rasgados como no papel, numa semana de caos também perto de nós, também longe de nós, em que muitos dos que conhecemos e dos que nunca vimos, tiveram de se colocar entre as suas casas e o indizível.

As notas do caos:

Há uma névoa de fumo no ar denso.

Há pessoas de máscara na boca e no nariz.

Há faúlhas no ar.

Diz-se faúlhas, fagulhas ou fopas?

Ele diz que a fagulha vinha incandescente quando caiu.

Será que a estrada está cortada por causa do fogo?

Estão aqui bombeiros de Avis, Ponte de Sor e Alter do Chão. 

Grou é uma ave.

Ela diz os grous vinham aqui beber água.

Este lar é privado. A mensalidade está ao nível de uma renda em Lisboa ou Porto.

O gato Tutu entra e sai.

Elas partilham um apartamento.  

Ela diz a minha irmã tem sido a minha mãe e é mais nova do que eu.

Ela chama-se Águeda.

Ela diz 86 já cá cantam.

Ela vem de Rio de Mel.

Ele diz fugi a salto, com um passador e trabalho prometido. O passador levou-me 7 contos e, quando chegámos lá, ele fez-me assim (e, ao dizer fez-me assim, ele faz um pirete).

Ela comprou apartamento, em 1998, por três mil contos. Hoje, o apartamento vale 300 mil euros.

Ela diz eu sofri um bocado para aprender a ladrar. Ladrar, para ela, é falar luxemburguês.

Ele diz as máquinas fazem a maior parte do trabalho na apanha das uvas.

Ele diz eles foram proibidos de apanhar uvas à noite, porque as máquinas sugavam pássaros.

No fim-de-semana o hotel estará cheio, se não houver cancelamentos.

O fogão é Meireles.

O guarda diz que não dá para passar.

Eles defendem a casa.

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