8/05/2024

Estará a Venezuela num impasse pela liderança?



A pergunta que se pode colocar é se a Venezuela estará num impasse pela liderança após a contenda eleitoral? Friamente digo que não. Como qualquer ditador, de esquerda ou de direita, Maduro sabia que estava a perder popularidade, nesse sentido ameaçou os eleitores com um banho de sangue. E como qualquer ditador prevenido manipulou o que poderia manipular. A oposição vê pela primeira vez a luz ao fundo do túnel, no entanto, salvo qualquer brecha nas forças armadas, Maduro não vai ceder e vai matar quem se atravessar à frente. 

É certo que no reconhecimento da sua aparente vitória faltam apoios. Aqueles que o aplaudem são igualmente ditadores, não se esperava outra coisa. O que causa irritação é a persistência de leituras da opinião pública que juram a pés juntos que Maduro é comunista. O comunismo enquanto forma de governo e/ou ideologia política caiu com o Muro de Berlim. Tudo o que existe são rótulos para continuar a separar o que é ou não influência dos EUA, só que a Guerra Fria terminou. O que persiste é a social-democracia e comunismo de base intelectual, mas mesmo essas correntes são a outra face do neoliberalismo.

Voltando a Maduro, só uma traição ou a resistência popular em larga escala o derruba. É tão agarrado ao poder que não tem problema em matar ou em morrer. Ora, não é disso que a Venezuela precisa. Perante a miséria do povo existe alguma incerteza, mas é essa miséria, o medo de sair à rua e o facto de nada sobrar para comer, que manteve o mesmo povo até agora calado. Por outro lado, as tentativas de intromissão dos EUA acabam por reforçar o poder do ditador. Vamos esperar para ver. A oposição tem um perfil de luta política, o que é bom, porém, só um episódio específico derruba o presidente auto-eleito por actos corruptos.  Vai certamente governar isolado e fechado a enfrentar o medo que causa, mas teimará em matar para não cair.

José G. Ferreira

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