9/05/2024

O CONVENTO DE VALE DE MADEIROS

 


Deste convento restou apenas um enorme poço quadrado, todo forrado de pedra talhada e que se encontra no vale de S. João, a oeste de Vale de Madeiros, à beira do caminho velho que segue para os Fiais.

Outros vestígios podem encontrar-se em algumas casas da terra, cujas pedras aparelhadas mostram bem ter pertencido a construções mais nobres.

Durante muitos anos, na altura da lavra dos campos, os proprietários daquelas terras encontraram muitos restos de louças e apetrechos de todo o género, que infelizmente se perderam, mas que só poderiam ter pertencido ao convento.

Pouco se sabe das origens deste convento, bem como da data da sua construção. Sabe-se sim que esteve ligado a histórias de freiras devassas, mancebias, filhos bastardos, intrigas palacianas e sobretudo a histórias de poder e de sucessão ao trono de Portugal, que se desenvolveram desde o tempo de D. Pedro I até ao reinado de D. João III, e, que, mais do que todas as outras, poderão ter estado na origem da ascensão e queda do Convento de Vale de Madeiros.

Ao certo o que se sabe é que em 1514, D. Catarina de Eça, descendente de um filho bastardo de D. Pedro e D. Inês de Castro, que era freira professa do Convento de Vale de Madeiros, assumiu o lugar de abadessa do Convento do Lorvão, que pertencia à mesma ordem religiosa.

Sabe-se também que em Portugal, a partir de 1140, os conventos aderiram em grande número à Ordem de Cister, promovida na Europa por S. Bernardo, abade de Claraval.

A proliferação dos mosteiros para religiosos do sexo feminino começou no séc. XIII com a conversão das comunidades beneditinas de Lorvão e Arouca em cistercienses.

Estes conventos parece terem sido construídos para albergar mulheres nobres que de alguma forma se tinham tornado indesejáveis na corte, tinham cometido actos indignos ou eram deles produto, mas que de qualquer forma não se podiam simplesmente eliminar, como esposas traídas, donzelas enganadas, viúvas metediças, filhas bastardas de reis e clérigos, segundas filhas a quem não era possível dar dotes ou casar, enfim mulheres perdidas já à partida e, por ventura, muito revoltadas.

Mas voltando às origens do Convento de Vale de Madeiros, podem ser exactamente desta época de meados do séc. XIII ou princípios do séc.XIV.

Em 1531-1532, Edme de Saulieu, abade de Claraval e monge de Cister, visitou todos os conventos da ordem embora, nessa altura, para tentar evitar o movimento separatista dos monges brancos portugueses dos seus irmãos franceses, coisa que veio a acontecer em 1567.

Esteve também em Vale de Madeiros e terá conhecido aquela que foi a abadessa mais notável deste convento, D. Filipa de Eça, sobrinha de D. Catarina de Eça e que terá passado toda a sua vida em guerra fria com o rei D. João III. Esta guerra terá mesmo chegado ao Papa Paulo III.

Foram provavelmente estas guerras pelo poder e o ódio do rei e de outros membros da corte e do clero que terão levado ao aparecimento das histórias escabrosas que se atribuem a D. Filipa bem como às suas doze ou treze monjas, alguma das quais fidalgas.   

È curioso que, visitando o convento de Arouca há alguns anos atrás, ouvi as mesmas histórias de devassidão e pecado atribuídas às freiras daquele convento, à semelhança das que se contam sobre as freiras de Vale de Madeiros.

O convento foi extinto em 1560 pelo Cardeal D. Henrique e os seus bens e monjas foram transferidos para o de Maceira Dão (a cujas ruínas ainda bem conservadas se recomenda a visita), com o pretexto de que não tinha rendimentos bastantes para se sustentar nem possuía cercas ou outras necessidades como convém à clausura de religiosas.

 

 

Nota: a ver: Concelho de Nelas de José Pinto Loureiro

 


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