Sublinha-te, muda o
traço ou a cor, mas não te inclines demasiado. No mínimo, é uma questão de
estilo.
Há dias ( contando também as horas em que os dias se chamam
noite) em que precisamos de acrescentar algo. No mínimo, transparência, e
quando falo de transparência não me refiro a comandos, teclas ou botões. Falo
do papel e do difícil que é, também à noite escrever em papel transparente.
Vegetal.
É noite e na noite
todos se adormecem, em modos resistentes, pouco transparentes.
Eu estou descalça. A
esta hora revejo-me nas solas dos pés vincadas por dias que poderiam ter sido
de outras formas e relevos.
Mas não há decreto nem lei que eu conheça que se pronuncie
sobre este e outros temas.
Por precaução continuarei algumas horas descalça.
Não vou virar a página.
Uma sombra branca fará
luzir o cinzento irregular do lápis numa outra folha.
Insisto.
Não mudo de página.
O lápis falha. A caneta? Impossível.
Insisto: transparência.
Imagino-me sorridente estampada (e espantada, claro) num
quadro da parede da sala. Faço sala aos vizinhos, aos que entram , aos que
ficam e aos que se arrependem.
A tinta segue, tortuosa o seu caminho.
Café? Não, obrigada. Foi o que me respondi. Tinta.
Às vezes (xx) durmo. Viro-me e sem grande esforço durmo mais
uma vez. Mas a noite continua a mesma e o dia, por vezes, também.
E repito: não é a esta hora que vou correr o risco de torcer
o tornozelo. Decidi, vou continuar assim, descalça.
Errei a página.
Regresso.
A troca de tinta na escrita poderá ter sido uma ilusória
sucessão de tons. O texto persegue as linhas, as páginas, as horas.
É por isso que às vezes nada parece servir para o que parece
ter sido feito.
A mim, por exemplo, não me serve a roupa.
A roupa....ai, a roupa.
Essa e as outras esperam ao lado da tábua na esperança que
um pensamento se transforme em algo bem mais necessário.
Eu....por falar em transparência.....há dias em que me sinto
raiz.
Poderia sentir-me árvore, mas teria que especificar e seria
já outra coisa bem diferente da que poderia ser.
Há dias destes em que palavras, acentos e palavras não se
conjugam do modo que vou julgando mais perfeito.
Vou descalça?
É agosto, e o mais transparente será queimar a sola dos pés
no alcatrão que nos leva quase a todo o lado.
Mais transparente?
Depois de agosto, se bem me lembro, é setembro.
E setembro ( transparente?)......redundante.
No mínimo, uma questão de estilo.
Catarina Fonseca 11 de agosto de 2017
( mais transparente
seria entender o que é isto de o hoje ser amanhã e o amanhã ter sido hoje...)
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