Não sou agarrado aos sonhos de menino
De voar e aproveitar a inclinação do terreno
De levar à prática o escorregar na laje, ainda que fosse motivo de castigo
Ainda assim tenho saudades de coisas simples
Lembro como no Verão dormia a sesta
Não necessitava de ir para o quarto
Ficava na chamada loja, a arrecadação da casa no piso térreo
Tinha duas arcas de milho de madeira, dormia sobre uma delas
Tenho saudades desse tempo simples
Como do som da água a descer do centro da aldeia por um rego pelos lameiros
Tinha um som em espiral, como uma filarmônica a tocar a natureza
Tenho saudades do momento da piqueta na azáfama das tarefas do campo
Lembra-me o cuidado que os meus avós dedicavam à nossa alimentação e educação
Poderia ser apenas pão de milho com azeitonas
Mas nunca faltou esse instante de paragem e recuperação de energias
Na época da fruta tinha sempre esse complemento
Fazia o mesmo com pequenos pepinos criados na vinha
Essa piqueta era acompanhada de um pouco de vinho tinto
Antes dos meus 15 anos decidi deixar de beber, retomei décadas depois
Tenho saudades de momentos em que agia como viciado
Quando encontrava um velho jornal não dava atenção a mais nada
O mesmo acontecia quando encontrava uma pinha mansa com pinhões
Ou quando pegava na navalha e tentava esculpir algo na madeira
José Gomes Ferreira
Sem comentários:
Enviar um comentário