9/16/2024

Incêndios Setembro 2024, mais uma página da tragédia


Sempre surgem comentários politizados para quem nada entende interpretar o problema dos incêndios. De facto, o problema é político, ainda que se tenha apostado genericamente na dimensão técnica, que também é importante, mas não é tudo. Também demográfico, climático, econômico e cultural. Mas deixem a treta da política partidária de lado, o problema tende a agravar-se de ano para ano, mas ainda andam no distrito senhores a negarem as alterações climática. Sempre tivemos incêndios, o primeiro grande incêndio da região, do qual tenho memória, aconteceu em 1976, na época combatido pelos aviões da Força Aérea, a partir daí o problema sempre se agravou, primeiro por culta dos madeireiros, depois dos eucaliptos, depois da "indústria de combate aos incêndios", pelo meio milhares de focos de incêndio foram ateados pelos tais "maluquinhos" ou alcóolicos ou traídos ou vizinhos invejosos. O que é certo é que a crise climática vem agravar tudo isso. Infelizmente teremos mais 2017's e 2024's. 

A mudança para o predominante eucalipto foi a machada final, mas não é o único problema. A falta de ordenamento florestal é sempre apontado por especialistas. A organização em entidades regionais não deu em nada. O Estado abandona a sua função e quer que outras entidades a realizem. Claro que deve ser em cooperação. A tudo isso deveremos somar um aspecto absolutamente fundamental: o abandono dos campos e a capacidade do ecossistema agrário geral água. Outrora no meio do pinhal ou da fazenda era comum haver uma nascente para “matar a sapeira”. Tinha sempre um púcaro de barro, os mesmos da resina, para quem quisesse beber água. Como exigir a limpeza das matas a pessoas envelhecidas ou a donos desconhecidos? Como exigir a limpeza se o Estado é negligente nas matas que gere?

A aposta avultada no combate tenta evitar dramas maiores, mas precisamos encontrar vias para diminuir as situações de risco. A crise climática está a colocar a questão em outros patamares, estamos a perder o comboio do planeamento e gestão da floresta. Inverter o percurso exige uma revolução, que chega a ser anunciada nos jornais, mas não dá em nada. Este não é o momento para balanços, mas exige uma profunda reflexão e trabalho série em diálogo com todos. Não aprendemos nada com 2017. Infelizmente as perspectivas não são nada animadoras. O histórico de governantes mostra que ou não entendem nada do tema ou estão com um pé nas celuloses. Existem meios de vigilância modernos, deveríamos antecipar o combate a grandes incêndios. Existem meios humanos e materiais, mas depois são insuficientes para enfrentar a dimensão de nova tragédia. Precisamos, neste como em outras matérias, responsabilizar os políticos que elegemos. Ter figuras decorativas a governar não serve para nada, apenas dá despesa. Claro que este problema não é de solução fácil, não se resolve com um cântaro de água nem com política sectoriais. Precisamos trabalhar de forma integrada e que nos co-responsabilize. O fim do drama deste ano ainda está longe, espera-se não ver aumentar o norte de mortes, feridos e perdas materiais, no restante pouco resta fazer. Talvez aguardar mais 2 a 3 anos para que o mato cresça e tudo se repita, é esse o ciclo da tragédia sem sim, sem dó e sem descanso.

Da minha parte espero que o meu sobrinho, primo e vizinho recuperem física e psicologicamente do que passaram. Podem dar graças por terem sobrevivido. Em particular o meu sobrinho precisará ir à bruxa, tantas coisas o têm afectado. Espero que o tal Estado que falha na prevenção o posso ajudar a ele e quem perdeu os seus pertences para as chamas. Não é fácil ser jovem agricultor em Portugal, ou é o Estado, ou é o fogo ou são os ladrões, tem sempre alguém que leva tudo.

Sem comentários: