8/08/2024

Caos na Saúde



O Sr Ministro da Presidência, António Leitão Amaro, na qualidade de porta-voz do Governo, vem agora dizer que, "ninguém de boa fé" poderia supor que os problemas na saúde seriam resolvidos em meses (a citação vem de uma manchete da SIC). No mínimo estranhamos esta afirmação, das duas três: ou falta essa boa fé ao governo, ou mentiram aos portugueses ou não fazem a mínima ideia de como resolver o problema.

Será bom repetir que o problema da saúde é complexo e não se resolve num dia. Questiono, também de novo, o porquê do afastamento do responsável pelo Serviço Nacional de Saúde, profissional de reconhecida competência e que sabia o que estava a fazer. Não se pode partir do princípio que uma resposta estrutural produza resultado em meses. O Plano de Emergência para a Saúde do Governo de Montenegro rompeu com medidas estruturais para fazer aquilo que o título diz, implementar medidas emergenciais, tapa buracos com prioridades duvidosas.

A juntar a tudo isto a Sra. Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, não prima por encontrar soluções. Aliás, este protagonismo de Leitão Amaro pretende sacudir a pressão sobre a Sra. Ministra. Montenegro não vai dar o braço a torcer, vai adiar a saída de Ana Paula Martins. Pior de tudo é o avanço de pretensas reformas das políticas estando a Sra. Ministra a prazo.

O problema não se resolve apenas com mudanças no Ministério da Saúde. O problema sempre se colocou (também) ao nível do Ensino Superior e do contrapoder da Ordem dos Médicos. Abram mais universidades, definam mais funções para a enfermagem, estes são dois temas sucessivamente ignorados. Insistimos que o problema é falta de organização, salários baixo, atractividade do sector privado e falta de investimento do Estado. Também são esses problemas e muita confusão com as competências municipais nesta área, sem esquecer os empecilhos na contratação de médicos estrangeiros. Não faltam diagnósticos. Mas o ziguezague das políticas e a individualização das mesmas, ou seja, a descontinuidade e a falta de consensos básicos, que leva a que cada governante tente implementar o que quer, são aspectos fundamentais. 

O SNS é exemplar, mas sem uma visão global, sem vontade em ser fortalecido e sem lideranças à altura dos desafios não dará bons resultados. Por sua vez, a pressão de alguns partidos pela defesa do SNS revela hipocrisia. Não podemos defender a menor acção do Estado e defender o SNS. Digam o que disserem, em sectores prioritários a acção do Estado é imprescindível.

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