7/21/2024

Reciprocidade cultural Portugal-Brasil

Escrevo do Brasil, para onde vim em Janeiro de 2016. Frequentemente, questionam-me porque fiz o percurso inverso aos brasileiros, já que eu vim e eles vão. Facilmente me adaptei e até agora só tenho motivos para me sentir bem, apesar de ter presente a expressão: o Brasil não é para principiantes. Devo dizer que não sinto qualquer benefício quanto ao ser português por aqui, referindo-me, obviamente, a aspectos relacionados a acordos bilaterais entre os dois países, no restante a língua ajuda, mas nem tudo são facilidades.

Actualmente, no Brasil destacam-se os treinadores de futebol portugueses, muitos iludidos com pretensas facilidades. Não é notícia a existência de jogadores portugueses no campeonato brasileiro. Em outras áreas por vezes aparecem alguns portugueses. No caso das universidades, que é o meu caso, encontro alguns ou pelo menos tenho notícias de alguns a trabalhar em diversas áreas. 

Antes desta vaga de imigrantes brasileiros para Portugal já se destacavam os jogadores de futebol e, mesmo sem residirem no nosso país, os artistas brasileiros sempre tiveram destaque no acolhimento em Portugal. Não me refiro necessariamente às novelas e a todo mundo do espectáculo relacionado à televisão, mas sobretudo ao mundo da música. 

Os artistas brasileiros estão sempre nos palcos principais de norte a sul de Portugal e ainda bem que assim é. Tem muita produção ruim, que só tem visibilidade em terras lusitanas, no geral são artistas de primeiríssima linha. O grande problema é que não havendo uma política de intercâmbio recíproco o mercado é marcado por agentes que favorecem um lado apenas - os artistas brasileiros e o público português. A presença de artistas nacionais em salas de espectáculos brasileiras é quase nula. O conhecimento do cidadão comum sobre a cultura portuguesa é quase nulo, pois não se investe na promoção e troca de experiências. O vinho e o azeite, bem como alguma literatura, são os nossos maiores embaixadores em Terras de Vera Cruz. Sem esquecer o importante papel da TAP nas ligações que ficam para além das viagens. 

Tenho um vizinho que acompanhou a carreira de Roberto Leal. Outras pessoas guardam algumas memórias. Numa das cidades em que trabalho, um motorista de Uber falou-me com brilho nos olhos sobre a sua prática de escuta radiofônica. Contou-me que é fã de Amália Rodrigues e escuta diariamente a Rádio Amália. Numa outra cidade sei da existência da Rua Amália Rodrigues. Mas tudo isso são casos pontuais, falta fazer tudo para mostrar que nem tudo é triste e nem tudo é fado.

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