É comum ouvirmos da boca do povo, em jeito de axioma: ”há coisas que
não se dizem”. Isto quer dizer que essas coisas se pensam, mas não se dizem.
Podem pensar-se e nada pode impedir-nos de o fazer, mas quanto a dizer é outra
conversa. Então é fácil concluir que, mais ou menos disfarçada, a censura está
presente, a começar em nós próprios e em qualquer sociedade por mais evoluída e
democrática que seja. E, tanto nós como as sociedades, quanto mais utilizamos a
tesoura da censura menos autênticos nos tornamos e mais soa a falso o que
fazemos. Daí que eu diga, também, que “falar é que é bom”. Sem tempo para
burilar o pensamento as coisas saem espontâneas e genuínas. Diz-se, está dito,
sem adornos nem ajeitar de discurso prenunciadores de verdade duvidosa. E todos
temos direito ao conhecimento da verdade. Temos direito a uma informação
correcta e verdadeira. Não ao diz-que- diz
que anda de boca em boca, tanto na boca de cada um como na boca e na
pena de alguma imprensa menos escrupulosa. A ânsia de fazer figura, de ser o primeiro, sobrepõe-se ao que devia
ser a vontade de esclarecer a verdade e só com a verdade prestar a informação.
Mas não é isso que se passa. Na boca do povo as verdades e as inverdades espalham-se
a uma velocidade assustadora, e os vizinhos que deviam ser amigos são
cochichados e olhados com sorrisos matreiros e comprometedores ao virar de cada
esquina. Mas que dizer dos meios de comunicação- jornais, rádio, televisão?
Para não falarmos da internet que aí, então, é que é o caos completo. Num abrir
e fechar de olhos se transforma um cidadão mais ou menos inocente num vigarista
sem escrúpulos e, por outro lado, branqueiam outros a quem uns tempos de prisão
faria bem, pelo bem que isso faria à sociedade. O que dizer da informação que
em catadupa chega até nós que nem tempo temos para digerir, para saber o que
fazer com ela? São mortes, assassinatos descritos com requintes de malvadez;
são justiças que ficaram pelo caminho e se transformaram em injustiças a
coberto de prescrições, insuficiência de provas e outras coisas complicadas que
ninguém percebe; é a fartura de uns a ajudar a fomentar a míngua de outros que são apenas pele e osso a rastejar na
agonia de morte lenta; são os alertas amarelos e laranjas a propósito do calor,
do frio, da chuva, do vento que nos deixam em estado cataléptico e afinal,
depois não se verificaram ou foram verificar-se noutro lugar ou noutro dia que,
paradoxalmente, não tinham tido direito a qualquer alerta.
Boa informação precisa-se. Séria, verdadeira, contida. Sem embandeirar em arco e, também, sem precipitações ou, até, alarmismos desnecessários e prejudiciais. Que sejamos informados do que de mau vai acontecendo, mas, por maioria de razão, que nos mostrem muito mais do que se faz de bom. Temos o direito a entusiasmar-nos com as descobertas e conquistas da ciência e da tecnologia, com os avanços na medicina, com o combate à pobreza, com o encantamento da cultura e do lazer. Faltam-nos motivos para os sorrisos ou para uma boa e inteligente gargalhada. E procurá-los no pequeno ecrã em qualquer programa de fim de dia não me parece muito salutar. É preciso ser-se criterioso na escolha. Arriscamo-nos a ficar mal informados, a pôr o nosso nível cultural pelas ruas da amargura e a ter uma ideia errada do que na verdade se passa por esse mundo fora. Corte, censure!
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