10 junho 2024

Quando me quer enganar

 



A minha bela perjura,

Pera mais me confirmar

O que quer certificar,

Pelos seus olhos mo jura.

Como meu contentamento

Todo se rege por eles,

Imagina o pensamento

Que se faz agravo a eles

Não crer tão grão juramento.

 

Porém, como em casos tais

Ando já visto e corrente,

Sem outros certos sinais,

Quanto me ela jura mais,

Tanto mais cuido que mente.

Então, vendo-lhe ofender

Uns tais olhos como aqueles,

Deixo-me antes tudo crer,

Só pela não constranger

A jurar falso por eles.

 

                 Luís de Camões

Foto - Selo comemorativo que celebra os 400 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, em 1924. Representação do poeta a salvar o seu manuscrito "Os Lusíadas" durante o naufrágio

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