Escolho a poesia breve dos dias de chuva
Inauguro mesmo os clichés
A escolha das palavras para abotoar beijos
Sentir os lábios mortiços a tocarem os acabamentos
Beber um copo de vinho e enaltecer o corpo masculino
Aproveito e abro a porta à saudade
A imaginação não tem limites quando se acredita
Escuto as bátegas de água nas paredes
Assemelham-se a obuses no terror do extermínio
Neste caso parecem apenas pianos a serem afinados
Não provocam vítimas no ruído
Escuto também o grito de crianças a abortarem
Infelizes não conseguiram fugir da violação
Tinham a certeza que eram defendidas
Estranho quando os seguidores dos deuses parecem apoiar demónios
Talvez deva procurar um campo de milho e não me preocupar
Escutarei nos versos a chuva e a poesia
Quero tanto mergulhar na beleza das intransigências
E acreditar na liberdade como sincronia de corpos e autónomos
José Gomes Ferreira
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