20 junho 2024

Campo de milho

Escolho a poesia breve dos dias de chuva

Inauguro mesmo os clichés 

A escolha das palavras para abotoar beijos

Sentir os lábios mortiços a tocarem os acabamentos 

Beber um copo de vinho e enaltecer o corpo masculino 

Aproveito e abro a porta à saudade

A imaginação não tem limites quando se acredita 

Escuto as bátegas de água nas paredes

Assemelham-se a obuses no terror do extermínio

Neste caso parecem apenas pianos a serem afinados

Não provocam vítimas no ruído 

Escuto também o grito de crianças a abortarem

Infelizes não conseguiram fugir da violação 

Tinham a certeza que eram defendidas

Estranho quando os seguidores dos deuses parecem apoiar demónios 

Talvez deva procurar um campo de milho e não me preocupar

Escutarei nos versos a chuva e a poesia

Quero tanto mergulhar na beleza das intransigências

E acreditar na liberdade como sincronia de corpos e autónomos


José Gomes Ferreira

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