7/30/2024

A CAMINHO DA DESCOLONIZAÇÃO: O PAPEL CRUCIAL DE SPÍNOLA E OS DESAFIOS DA LIBERDADE


Com a Revolução de Abril, o fim da ditadura trouxe consigo o início de um complexo e muitas vezes tumultuoso caminho para a descolonização de Portugal.

A declaração de Spínola a 27 de julho de 1974 marcou um ponto de viragem na história das colónias portuguesas, abrindo portas para um futuro de autodeterminação e independência.

SPÍNOLA E O RECONHECIMENTO DA AUTODETERMINAÇÃO

A 15 de maio de 1974, António de Spínola assumiu a presidência da República com um compromisso firme: reconhecer o direito dos povos ultramarinos à autodeterminação e explorar todas as vias para alcançar a paz.

A sua visão, contudo, enfrentou resistência tanto na metrópole quanto nos territórios coloniais. A maioria dos partidos e movimentos políticos portugueses concordava na necessidade de pôr fim à guerra colonial, mas divergiam quanto ao método de descolonização.

DIVERGÊNCIAS INTERNAS E EXTERNAS

Os partidos de extrema-esquerda, como o MRPP e o PCP-ML, exigiam independência imediata para as colónias. O PCP, sob a liderança de Álvaro Cunhal, adotou uma postura mais cautelosa, defendendo negociações com movimentos de libertação como o PAIGC, MPLA e FRELIMO.

O PS de Mário Soares rejeitava a solução federalista de Spínola e defendia negociações diretas para a independência.

A chegada de Spínola à presidência trouxe uma esperança de mudança, mas também expôs profundas divisões políticas.

Spínola propôs a regionalização das estruturas políticas dos territórios ultramarinos e a participação dos seus naturais na gestão pública, mas encontrou oposição tanto do MFA quanto dos movimentos de libertação.     

AS NEGOCIAÇÕES E OS PRIMEIROS PASSOS

Na Guiné-Bissau, Mário Soares iniciou negociações informais com o PAIGC em Dakar no mesmo dia da posse do I Governo Provisório.

Este gesto de boa vontade levou à suspensão temporária das hostilidades pelo PAIGC e pressionou o governo português a reconhecer a independência da Guiné-Bissau e o direito à autodeterminação de Cabo Verde.

Em Moçambique, as negociações com a FRELIMO em Lusaca foram igualmente tensas.

A FRELIMO exigia o reconhecimento da independência e do seu papel como representante legítimo do povo moçambicano antes de concordar com um cessar-fogo.

Apesar dos desafios, o abraço histórico entre Mário Soares e Samora Machel simbolizou a determinação de avançar para a independência.

O DESFECHO DO FEDERALISMO

Spínola, ao tentar impor uma descolonização gradual com referendos sobre a independência, enfrentou crescente oposição.

A reunião de 8 de junho na Manutenção Militar revelou a falta de apoio à sua proposta, consolidando a decisão de um cessar-fogo imediato.

O seu discurso de 27 de julho de 1974, no qual reconheceu o direito dos povos ultramarinos à autodeterminação, marcou o fim do seu projeto federalista.         


APOIO INTERNACIONAL E A CAMINHO DA INDEPENDÊNCIA

A visita de Kurt Waldheim, secretário-geral da ONU, a Lisboa e as subsequentes negociações reforçaram o compromisso de Portugal com a independência dos territórios coloniais.

O comunicado final prometia um reconhecimento imediato da independência da Guiné-Bissau, negociações aceleradas com a FRELIMO em Moçambique, e a abertura de contactos formais com os movimentos de libertação em Angola.

CONCLUSÃO

A descolonização portuguesa foi um processo complexo e emocionalmente carregado, marcado por intensas negociações e profundas divisões políticas.

A determinação de líderes como António de Spínola e Mário Soares, aliada ao apoio internacional, permitiu que Portugal desse passos decisivos rumo ao reconhecimento da autodeterminação dos povos ultramarinos. Este período histórico, embora repleto de desafios, é um testemunho da capacidade de transformação e do compromisso com a liberdade e a justiça.

E sssim se passaram 50 anos... Uma Abençoada e Feliz tarde com muita saúde. Fiquem bem!

João Manuel Magalhães Rodrigues Fernandes

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