domingo 21 2025

TRABALHAR PARA VIVER COM DIGNIDADE: MEMÓRIA, JUSTIÇA E FUTURO

 


Já caminho, felizmente, há muitos anos por este mundo fora, e desde muito cedo aprendi, em casa, que o trabalho nunca foi coisa leve. A minha avó e os meus tios, ainda em crianças, o meu pai e a minha mãe começaram a trabalhar, jovens. Sacrifícios sem conta, noites mal dormidas, jornadas intermináveis, anos seguidos sem férias, por exemplo, a minha avó nunca teve, e o meu pai com cerca de cinquenta anos de trabalho, também não. Não era romantismo, era sobrevivência. Antes do 25 de Abril, falava-se pouco de direitos e muito de obediência. Aquilo tinha um nome duro, mas justo: exploração, quase escravidão.

Depois veio o 25 de Abril, e com ele a dignidade entrou pela porta dentro. Direitos laborais, sindicatos fortes, trabalhadores com voz. Durante algum tempo, acreditou-se que o trabalho tinha finalmente passado a ser respeitado. Nos anos 90, porém, muita dessa força esmoreceu. Os sindicatos perderam peso, à exceção da função pública e de alguns setores específicos, transportes, estivadores, que ainda hoje seguram a bitola da reivindicação. E talvez seja por isso que continuam a incomodar.
Também eu entrei cedo no mercado de trabalho. Não por obrigação, mas por vontade. E tive sorte, muita sorte. O meu primeiro patrão não foi apenas patrão: foi mestre, protetor, quase pai. Um homem raro, daqueles que reconhecem o valor humano antes do valor produtivo. O Senhor Henrique Nunes. Um verdadeiro Senhor, em maiúsculas. Dignidade, respeito, profissionalismo, humanismo. Uma referência eterna. Contar histórias sobre ele dava para uma noite inteira, e ainda ficariam muitas por contar.
Infelizmente, foram exceções. Ao longo de uma vida profissional inteira, posso contar pelos dedos de uma mão os que verdadeiramente valorizaram o trabalhador. Hoje fala-se muito em “colaboradores”, mas eu continuo a preferir a palavra trabalhadores, porque colaborador soa bonito, mas muitas vezes esconde a mesma velha exploração com roupa nova.
E aqui está o paradoxo cruel: com mais direitos no papel, o mundo laboral tornou-se, em muitos casos, mais ingrato na prática. A ingratidão, a pressão constante, a desvalorização e a exploração subtil estão cada vez mais presentes. Vivemos no primeiro quarto do século XXI e, ainda assim, persistem mentalidades quase medievais. Salvo raras e honrosas exceções.
Gosto sempre de citar o Grupo Nabeiro como exemplo luminoso: uma empresa que percebeu algo simples e essencial, trabalhadores respeitados, valorizados e com condições são a base de qualquer sucesso duradouro. Não é caridade, é visão. É humanidade com inteligência.
Valorizar quem trabalha não é um favor. É justiça. É reconhecer que nada funciona sem quem levanta cedo o país, quem produz, quem cuida, quem constrói, quem serve. Sem trabalhadores, não há economia, não há empresas, não há futuro.
Que este Natal sirva para refletirmos sobre isso. Que sejamos mais solidários, mais justos e mais humanos.
E que o próximo ano traga, finalmente, um verdadeiro tempo de valorização dos trabalhadores, porque eles bem o merecem.
Um Santo e Feliz Natal, com saúde, dignidade e esperança para todos e todas.
🎄✨
Uma Abençoada e Feliz Noite, muita saúde e felicidades, sejam felizes...
Fiquem bem!
João Manuel Magalhães Rodrigues Fernandes

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