Volta e meia, como quem não quer a coisa, lá regressa o tema da regionalização. Desta vez, pela voz cautelosa — e convenientemente ambígua — do Senhor Primeiro-Ministro, que garante que “não está na agenda”. Não está… mas também não morreu. Ficou ali, em lume brando, à espera de melhor oportunidade política. Um clássico.
O que Portugal precisa não é de mais poder para o poder, mas de mais descentralização com meios, com financiamento sério, com capacidade de decisão real para os municípios. Dar responsabilidades sem condições é só atirar a batata quente e lavar as mãos no Terreiro do Paço.
O interior não precisa de regiões políticas — precisa de emprego, serviços, saúde, transportes, escolas, habitação, comércio vivo e gente. Precisa de incentivos para empresas se fixarem, de menos impostos para quem arrisca investir fora do litoral, de regras que protejam o comércio local e travem o esmagamento pelas grandes superfícies. Precisa de natalidade apoiada, de economia circular a funcionar, de dignidade para quem lá vive.
Regionalizar seria apenas mudar o mapa para continuar tudo na mesma, com a agravante de alimentar regionalismos artificiais e clivagens desnecessárias num território pequeno, mas culturalmente riquíssimo. E sejamos honestos: também abrir espaço para mais “lugares de confiança”, mais tachos e mais tentação.
O problema do país não é falta de modelos — é falta de visão. Década após década, o interior foi sendo deixado para trás, enquanto se governa a partir de Lisboa, com uma breve extensão ao Porto, como se o resto fosse paisagem.
Por Amor de Deus, Senhores Governantes: olhem para o país inteiro. Tirem as palas, façam políticas estruturais, duradouras, corajosas. O que falta não é regionalização — é coragem política e visão estratégica.
E isso, convenhamos, já devia ter chegado ontem.

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