segunda-feira 15 2025

REGIONALIZAÇÃO: O FANTASMA QUE VOLTA SEMPRE QUANDO FALTA VISÃO

 


Volta e meia, como quem não quer a coisa, lá regressa o tema da regionalização. Desta vez, pela voz cautelosa — e convenientemente ambígua — do Senhor Primeiro-Ministro, que garante que “não está na agenda”. Não está… mas também não morreu. Ficou ali, em lume brando, à espera de melhor oportunidade política. Um clássico.

Convém ser claro: a regionalização não resolve problema nenhum aos cidadãos. Pelo contrário, cria outros. Mais estruturas, mais cargos, mais despesa pública e, muito provavelmente, mais confusão administrativa num país pequeno, já pesado de burocracia e leve em eficácia.
O que Portugal precisa não é de mais poder para o poder, mas de mais descentralização com meios, com financiamento sério, com capacidade de decisão real para os municípios. Dar responsabilidades sem condições é só atirar a batata quente e lavar as mãos no Terreiro do Paço.
O interior não precisa de regiões políticas — precisa de emprego, serviços, saúde, transportes, escolas, habitação, comércio vivo e gente. Precisa de incentivos para empresas se fixarem, de menos impostos para quem arrisca investir fora do litoral, de regras que protejam o comércio local e travem o esmagamento pelas grandes superfícies. Precisa de natalidade apoiada, de economia circular a funcionar, de dignidade para quem lá vive.
Regionalizar seria apenas mudar o mapa para continuar tudo na mesma, com a agravante de alimentar regionalismos artificiais e clivagens desnecessárias num território pequeno, mas culturalmente riquíssimo. E sejamos honestos: também abrir espaço para mais “lugares de confiança”, mais tachos e mais tentação.
O problema do país não é falta de modelos — é falta de visão. Década após década, o interior foi sendo deixado para trás, enquanto se governa a partir de Lisboa, com uma breve extensão ao Porto, como se o resto fosse paisagem.
Por Amor de Deus, Senhores Governantes: olhem para o país inteiro. Tirem as palas, façam políticas estruturais, duradouras, corajosas. O que falta não é regionalização — é coragem política e visão estratégica.
E isso, convenhamos, já devia ter chegado ontem.

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