Enquanto o trabalhador conta os tostões até ao fim do mês, os de sempre contam lucros, dividendos e milhões — muitos deles bem longe do país que os ajudou a criá-los. Chamam-lhe crescimento económico, nós chamamos-lhe desigualdade obscena.
Dizem-nos, com ar solene, que as grandes empresas estão a bater recordes de lucros e que isso “é bom para o país”. Ótimo. A pergunta simples — e convenientemente ignorada — é: bom para quem?
Certamente não para quem trabalha horas a mais, recebe salários a menos e chega ao fim do mês a escolher entre pagar a renda ou encher o frigorífico.
Os lucros não descem à fábrica, ao balcão, ao supermercado ou ao armazém. Sobem, isso sim, para offshores, para carros de luxo, condomínios fechados e paraísos fiscais. O suor fica cá. O dinheiro vai de férias.
Os bancos, esses, fazem o pleno: lucram com a dificuldade alheia, cobram comissões como quem cobra bilhetes para um espetáculo de má qualidade e ainda recebem palmas institucionais. Um aplauso de pé… pago a prestações.
Os governos, de todas as cores, entram em cena com o velho teatro: gráficos otimistas, discursos ensaiados e propaganda reciclada. O problema é que já nem para teatro têm talento. O público — trabalhadores, pensionistas e jovens — está farto e a abandonar a sala. Uns por cansaço, outros pela emigração forçada.
Hoje, trabalhar não garante dignidade. Garantir casa é luxo. Constituir família é ficção científica. E o futuro?
O futuro continua a ser uma pergunta incômoda que ninguém no poder quer responder.
Porque enquanto uns contam milhões…
a maioria continua a contar os dias.
João Manuel Magalhães Rodrigues Fernandes

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