Não haverá advogados a mais na política? A pergunta impõe-se, legítima, incómoda e convenhamos, cada vez mais difícil de ignorar. Fica sempre aquela sensação persistente de que muitos entram na política com um pé no Parlamento e outro já bem ensaiado na porta giratória da vida profissional futura. Coincidência? Talvez. Mas dúvidas também contam.
Que fique claro: isto não é um ataque pessoal nem profissional. Não se trata de serem melhores ou piores, mais sérios ou menos sérios do que outras profissões. Nada disso. É uma constatação quase empírica, do cidadão comum, aquele que paga impostos, assiste às notícias e abana a cabeça perante casos atrás de casos que acabam… em nada. Investigações longas, dispendiosas, governos a cair, dossiês a acumular pó, e o erário público sempre a trabalhar em horas extraordinárias.
A sucessão é vertiginosa: saímos de um caso, entramos noutro; ou nem chegamos a sair e já estamos mergulhados no seguinte. António Costa? Ainda investigado, mas agora Presidente do Conselho Europeu. Montenegro? Arquivado. Agora surge mais um candidato presidencial sob suspeita, ligado a empresas de prestação de serviços. Será azar? Ou apenas mais um capítulo de uma série que já vai longa demais?
A perceção, sublinhe-se, perceção, é a de que alguns advogados acumulam capital político que mais tarde rende juros generosos na esfera privada: construção, consultadoria, prestação de serviços, influência subtil mas eficaz. Tudo dentro da lei? Talvez. Tudo eticamente confortável? Aí é que a conversa muda de tom.
No meio disto tudo, o cidadão fica com a sensação desconfortável de que a política se tornou um excelente estágio profissional. E a pergunta insiste, teimosa: será saudável para a democracia ter sempre os mesmos perfis, as mesmas lógicas, os mesmos enredos?
São dúvidas, apenas dúvidas. Mas numa democracia madura, até as dúvidas merecem ser debatidas. Nem que seja para não continuarmos a fingir surpresa quando o próximo “caso fresquinho” aparecer amanhã no telejornal.
Uma Santa e Feliz Noite, muita saúde e felicidades, sejam felizes...
Fiquem bem!

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