sexta-feira 26 2025

LINHA DA BEIRA ALTA: UMA JANELA QUE SE VOLTA A ABRIR OU UMA PROMESSA A TESTAR?

Foto António Machado

Depois de anos de espera, obras, adiamentos e incertezas, a Linha da Beira Alta reabre por completo no próximo domingo. Um regresso aguardado, celebrado por muitos como um renascimento do caminho de ferro no interior do país.

Mas, afinal, será esta reabertura o motor transformador que se anuncia… ou apenas mais um capítulo em que o tempo acabará por desmentir as promessas?

A verdade é que esta linha não é apenas um trilho de ferro e travessas. É uma artéria vital, que liga o coração do interior português à Europa, que pode aproximar cidades esquecidas, dar nova vida à circulação de mercadorias e abrir horizontes de mobilidade mais sustentável para passageiros.

Com a Concordância da Mealhada, o mapa ferroviário ganha ainda mais músculo: Norte e Beira Alta passam a falar diretamente, encurtando distâncias e multiplicando possibilidades, nomeadamente com ligações à linha do norte, e com isso, incurtar distâncias, designadamente ao porto de Aveiro e Leixões, o que é extremamente importante.

Mas convém não embandeirar em arco. A eficácia desta medida não se mede na cerimónia da inauguração, nem nos discursos oficiais: mede-se no uso real, no número de comboios, na regularidade das ligações, nos preços praticados e, sobretudo, na capacidade de atrair pessoas e empresas para a ferrovia.

Uma linha reaberta sem serviço robusto e competitivo corre o risco de se tornar apenas um corredor vazio, e o interior do país não merece mais promessas que não saem do papel.

Se bem gerida, esta pode ser uma oportunidade rara para reequilibrar o território, reforçar a economia e apostar numa mobilidade amiga do ambiente. Se mal acompanhada, pode cair naquilo a que já estamos habituados: uma “obra feita” que serve mais para fotografia do que para futuro.

No fundo, a Linha da Beira Alta que agora ressuscita não transporta apenas passageiros ou mercadorias. Transporta também a esperança de que Portugal olhe para o seu interior com a seriedade que há muito lhe deve.

O desafio está lançado: que este comboio  não passe apenas uma vez. 

Texto - João Manuel


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