Foto António Machado
Depois de anos de espera, obras, adiamentos e incertezas, a Linha da Beira Alta reabre por completo no próximo domingo. Um regresso aguardado, celebrado por muitos como um renascimento do caminho de ferro no interior do país.
Mas, afinal, será esta reabertura o
motor transformador que se anuncia… ou apenas mais um capítulo em que o tempo
acabará por desmentir as promessas?
A verdade é que esta linha não é
apenas um trilho de ferro e travessas. É uma artéria vital, que liga o coração
do interior português à Europa, que pode aproximar cidades esquecidas, dar nova
vida à circulação de mercadorias e abrir horizontes de mobilidade mais
sustentável para passageiros.
Com a Concordância da Mealhada, o
mapa ferroviário ganha ainda mais músculo: Norte e Beira Alta passam a falar
diretamente, encurtando distâncias e multiplicando possibilidades, nomeadamente
com ligações à linha do norte, e com isso, incurtar distâncias, designadamente
ao porto de Aveiro e Leixões, o que é extremamente importante.
Mas convém não embandeirar em arco. A
eficácia desta medida não se mede na cerimónia da inauguração, nem nos
discursos oficiais: mede-se no uso real, no número de comboios, na regularidade
das ligações, nos preços praticados e, sobretudo, na capacidade de atrair
pessoas e empresas para a ferrovia.
Uma linha reaberta sem serviço
robusto e competitivo corre o risco de se tornar apenas um corredor vazio, e o
interior do país não merece mais promessas que não saem do papel.
Se bem gerida, esta pode ser uma oportunidade
rara para reequilibrar o território, reforçar a economia e apostar numa
mobilidade amiga do ambiente. Se mal acompanhada, pode cair naquilo a que já
estamos habituados: uma “obra feita” que serve mais para fotografia do que para
futuro.
No fundo, a Linha da Beira Alta que
agora ressuscita não transporta apenas passageiros ou mercadorias. Transporta
também a esperança de que Portugal olhe para o seu interior com a seriedade que
há muito lhe deve.
O desafio está lançado: que este
comboio não passe apenas uma vez.
Texto - João Manuel
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