Feira De Nelas inaugura novo recinto |
Antes da proliferação, até exagerada, de supermercados, as famílias em áreas rurais faziam parte das compras mensais na feira. Nas vilas realizam-se normalmente uma vez por mês. Fui muitas vezes à feira de Nelas e de Canas de Senhorim, fui pouquíssimas vezes à de Carvalhal Redondo. Na cidade de Viseu, que conheço mais pelos efeitos da feira no trânsito e dinâmica da cidade, realiza-se a cada terça-feira. Com os meus avós frequentava uma ou outra feira mensal. Ainda se realizam várias no município. Também se comprava roupa, calçado, utensílios para a cozinha e tecidos para a casa, porém, as famílias ligadas à agricultura sempre usaram a sazonalidade da preparação das sementeiras e plantações para irem à feira. Quando a procura era muita chegavam a madrugar. O que acontecia em dois momentos específicos: no início da Primavera à procura de cebolo para replantar e nas primeiras duas feiras do mês de Agosto com o objectivo de adquirirem umas dúzias de pés da couve portuguesa para replantarem, geralmente no terreno onde arrancaram as batatas. A primeira feira de Agosto sempre teve muita procura, igualmente, por ser a do reencontro com os nossos emigrantes.
Se tem um aspecto que me causava curiosidade extra na feira eram os vendedores de todo tipo de tecidos para o lar (refiro-me a cobertores, lençóis, tolhas e afins), mas que não o faziam nas tradicionais tendas, usavam (e ainda usam) aquelas camionetas, ou como o povo diz, carrinhas de tamanho maior, com caixa fechada, em que abriam uma parte lateral para mostrarem os seus produtos. Como o povo dizia anunciavam a venda da banha da cobra usando o chão dessas viaturas como uma espécie de palco. Era, e ainda se pode ver, uma espécie de performance para conseguirem a atenção da clientela. Nas tendas os vendedores tinham, em muitas casos, as suas lojas estabelecidas nas localidades da região e "faziam a feira" como complemento de vendas. Qualquer redução do preço era feita cliente a cliente. Nas camionetas o anúncio dos produtos vinha já com desconto para todos e ainda levavam mais um paninho ou qualquer bugiganga. Além das qualidades performativas de cada vendedor um outro pormenor acabava por se destacar. Usavam um microfone pendurado nos ombros e pescoço que, para captar melhor o som, surgia como que enrolado numa toalha. Na época os carteiristas já eram grandes artistas, mas nada como agora. Esses vendedores é que desempenhavam essa função de agregar, como qualquer espectáculo no largo da aldeia.
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