7/27/2024

Vamos falar sobre resíduos



Muito se fala em reduzir os resíduos produzidos, em promover a reciclagem e a economia circular, como se tudo fosse novo e o início de um novo ciclo. No caso português nem podemos associar a maior produção de resíduos ao aumento da população, pois esse aumento tem sido conseguido à custa da imigração. 

É certo que proliferou o consumismo, ao mesmo tempo que tudo passou a ser embalado e houve um retrocesso das políticas de resíduos no que diz respeito, nomeadamente, à reutilização das embalagens. Até meados da década de 1980 (e um pouco mais tarde) a cerveja era vendida em garrafas com retorno, era necessário pagar a tara ou devolver as garrafas, era prática corrente. A expansão acelerada de grandes redes de supermercados fez regredir essa prática.

A grande questão é que, não só o consumo era menor e o uso de embalagens era reduzido, como tudo era usado e re-usado na perspectiva da economia doméstica e da dinâmica dos comércios locais. Os resíduos sobrantes eram mínimos, por vezes algum plásticos e materiais metálicos que poderiam ser vendidos ou dados para o ferro-velho. O cartão era recolhido por algumas pessoas. Lembro que em Lisboa, em meados da década de 1990, tinha uma família próxima às Portas de Benfica que vivia da recolha de cartão. Um funcionário do aeroporto organizava e levava para vender.

No meio rural o consumo era pouco, as famílias viviam do que produziam e qualquer resto de comida ou da horta ia para as galinhas ou para o porco. No Verão, a produção excedente de figos era usada para a engorda do porco. O porco era tanto o elemento central da economia doméstica como o fim último de restos de cozinha e produção agrícola. Sem esquecer que o cão e o gato tinham igualmente o seu papel no processo. Não eram bibelots, não havia problema em serem alimentados com restos, essa era a parte da sua participação no espaço doméstico.

Claro que nem tudo eram rosas. Era absolutamente abominável a prática de despejo de resíduos nas matas e à beira da estrada. As chamadas lixeiras a céu aberto foram encerradas apenas em 2001. Muita coisa mudou, a reciclagem está longe das metas europeias, mas aí também o nosso papel na separação e uso dos ecopontos devidos. Os desafios continuam grandes, sobretudo a pensar na economia circular e em promover um novo ciclo para os materiais. 

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