7/30/2024

Tristes Jogos Olímpicos



Até ao momento a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos não produziu resultados em termos de medalhas, as quais são sempre uma incógnita. Para muitos vencedores de bancada é fácil chegar e vencer, porém, as coisas não se passam dessa forma. Factores com a inexperiência dos atletas, o encanto com a atmosfera do evento, a falta de preparação psicológica, a falta de apoios na preparação prévia, podem interferir com os resultados. Sem esquecer que todos nós temos dias bons e maus. E sem esquecer, igualmente, que obter os mínimos para participar já é uma vitória. Portugal é um micro país, temos campeões em algumas áreas, mas a nossa escala não é de grandes vencedores de medalhas. Mas vamos aguardar, precisamos exigir menos dos nossos atletas e estar na claque de apoio. Somos exigentes, porém, sem manifestar apoio e se possível estar presentes.

Um dos acontecimentos, graves pela forma como são colocados, diz respeito à presença desses vencedores de bancada nas redes sociais. Dizem os tais de patriotas que os portugueses não são racistas nem xenófobos. Dizem, mas é conversa fiada. Basta dar uma leitura por alguns comentários nessas mesmas redes sociais para se ficar atento a uma realidade extremamente desagradável. Destaco o caso da tenista de mesa Jieni Shao, que teve a proeza de chegar aos 16 avos de final da competição, mas tem sido enxovalhada por ter, obviamente, nome e origem chinesa. É lamentável tudo isto e vai agravar-se no caso de Pedro Pichardo. O caso de Jieni Shao é mais grave ainda, pois a família veio para Portugal vai para uns 20 anos e a atleta está casada com um português. Ainda me pergunto o que lhe falta para ser portuguesa. Esses senhores fulanos ainda a acusam de oportunismo, que bem poderia representar o país de nascimento. É muito descaramento nosso. Não só o país ganha directamente com as duas vitórias como o seu trabalho pode inspirar outras gerações. Mesmo com Pichardo não vejo motivo para o alarido, essa mudança de país é uma prática comum.

Estas situações não deveriam ocorrer. A falta de controle dos comentários das redes sociais autoriza as pessoas a dizerem todo tipo de disparates. Até parece que quando os portugueses vão trabalhar para outro país não torcem por esse novo país, pelo menos desde que a competição não tenha Portugal como adversário. Como um mal nunca vem só, ontem parte dos comentários sobre a contratação de professores estrangeiros para o ensino secundário seguia a mesma toada. Alguém, absurda e hipocritamente, defendia que esses portugueses deveriam fazer prova de que falam português de Portugal. Não sei para onde vamos, mas este caminho não vai dar bons resultados. Sou professor no Brasil desde Janeiro de 2016, se for para falar português do Brasil também estou excluído. Sabemos que uma coisa são as conversas de café e de redes sociais e outra são as políticas públicas, mas este crescendo xenófobo é preocupante.

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